Evangelhos Gnósticos
Durante muito tempo, vários livros do Cristianismo permaneceram na obscuridade. Por apresentarem informações que divergiam da doutrina ortodoxa estabelecida pela igreja, foram considerados heréticos, e acabaram não sendo incluídos na versão oficial da Bíblia.
Muitos desses livros se perderam no tempo, outros foram destruídos, e é provável ainda que o Vaticano tenha em seu poder parte dessas obras cujo conteúdo é de extrema importância para que possamos entender o surgimento da religião que tem hoje o maior número de seguidores no mundo.
Diferente do relato da Criação encontrado no Gênesis, escritos apócrifos contam uma história complexa e fascinante sobre as coisas que já estavam em existência antes da Criação; e que neste Universo, que surgiu depois, não tem apenas um céu e um deus, mas muitos céus e deuses numa hierarquia de poderes conflituosos. Esses poderes e autoridades que foram estabelecidos produziram não somente os humanos, mas também inúmeros outros seres, e raças que se assimilaram à humanidade há muito tempo atrás.
Há descrições de como a vida se iniciou 'nas águas', e eventos catastróficos de destruição em massa que se sucederam; como o dilúvio, que ecoa nas tradições de diversos povos antigos; e a conflagração, uma chuva de fogo, asfalto, e enxofre, lançada sobre a Terra pelos regentes. Poderiam estes acontecimentos terem sido os responsáveis pela extinção e o desaparecimento dos dinossauros?
Se não fosse pelas evidências materiais que podem ser rastreadas através dos acontecimentos narrados, poderia se dizer que estes textos são o mais fantástico trabalho de ficção já feito, dada a coerência da história relatada, e a sofisticação de seus conceitos metafísicos que hoje possuem poucos ou nenhum equivalente.
A Sabedoria Proibida Ressurge
Com a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi, em 1945 no Egito, treze manuscritos antigos contendo mais de cinquenta textos trouxeram à tona os pensamentos que circulavam nos meios gnósticos do início do Cristianismo e que tanto preocupavam a igreja.
O que em tempos remotos era um privilégio apenas para os mais avançados estudantes de teosofia, hoje revoluciona nosso entendimento sobre um dos personagens mais intrigantes de toda a história. Quem foi Jesus? Um louco? Um mensageiro? Ele realmente existiu?
Um dos evangelhos apócrifos encontrados em Nag Hammadi é o Evangelho de Tomé, e nele encontramos uma versão bem diferente do Jesus bíblico. Nos escritos, Jesus pouco menciona pecado, se posiciona contra a igreja; acusa os doutores e cientistas de terem roubado e escondido as chaves da sabedoria, obstruindo o processo de salvação; e diz que não veio ao mundo para a paz, mas para a guerra.
Tem também uma impressionante reviravolta na lenda de Adão e Eva, a árvore da sabedoria e a queda do Paraíso; a relação dos deuses com a humanidade; reinos eternos e a descida de seres imortais para a Terra; impérios de deuses e anjos em outros planetas e seus domínios nos céus do caos. Conteúdos estes que por vezes se assemelham a lendas Sumérias e Babilônicas, como os tabletes do Enuma Elish, ou o Épico de Gilgamesh. E se são apenas lendas, por que culturas distintas em épocas tão diferentes insistem em contá-las com uma sequência de fatos e riqueza de detalhes tão extraordinárias?
A origem dos Livros Apócrifos (também chamados de Livros Gnósticos; do grego Gnosis, que significa Conhecimento) nos remete ao ano 367 d.C. Por ordem do Bispo Atanásio de Alexandria, que seguia a resolução do Concílio de Niceia ocorrido em 325 d.C, foram destruídos inúmeros
manuscritos dos primórdios do Cristianismo. Esses documentos eram supostamente fantasiosos e deturpavam as bases da doutrina Católica que se estabelecia naquele momento. Porém, cientes da importância histórica destes papiros originais, os Monges estabelecidos à margem do rio Nilo, optaram por não destruí-los. Ao contrário, guardaram os códices de papiros dentro de urnas de argila e as enterraram na base de um penhasco chamado Djebel El-Tarif. Ali ficaram esquecidos e protegidos por mais de 1500 anos.
Em 1945, Mohammed Ali Es-Samman e seus irmãos, residentes na aldeia de El-Kasr, estavam brincando próximos ao penhasco, quando encontraram as urnas escondidas durante séculos. Pensando que se tratava de ouro, acabaram quebrando uma das urnas, mas só encontraram 13 códices com mais de 1000 páginas de papiro. Decepcionados, levaram para casa, e sua mãe chegou a usar alguns papiros para acender o fogo.
Em 1952, o museu Copta do Cairo recebeu os manuscritos para sua guarda. Faltavam algumas páginas e um códice fora vendido pela família de Mohammed para o Instituto Jung, de Zurique. Esses códices passaram a ser chamados Bíblia de Nag Hammadi, localidade onde fora encontrado os manuscritos. Antes desta descoberta, só se conheciam os textos Gnósticos pelas citações de outros autores. Dos 53 textos encontrados, 40 eram totalmente desconhecidos da comunidade científica. Estes Manuscritos foram redigidos em Copta, antiga língua egípcia, que utilizava caracteres gregos.
Em 1947, dois pastores descobriram em uma gruta próxima ao Mar Morto, fragmentos e rolos escritos em hebraico. Logo se percebeu a grandiosidade desta descoberta. Havia textos condizentes com a Bíblia e outros textos apócrifos. A partir de então, outras grutas foram sendo encontradas, contendo muito material em grande parte identificado como sendo do Antigo Testamento. Até este momento, todas as grutas encontradas continham material escrito em hebraico e aramaico. Porém, em 1955 foi descoberta uma gruta que continha papiros e jarros com escrita em grego. Comprovou-se que se tratavam dos mais antigos manuscritos já descobertos pelo homem, datados de tempos anteriores aos dias de Cristo.
Um dos rolos, o mais conservado, apresenta uma cópia do Livro de Isaías que, ao ser comparado com as cópias modernas, trouxe a certeza de que não houve nesses dois milênios, nenhuma alteração de sua mensagem profética. Encontra-se também O Manuscrito de Lameque, conhecido como O Apócrifo de Gênesis, que apresenta um relato ampliado do Gênesis. Há ainda A Regra da Guerra, que narra a grande batalha final entre os filhos da luz e os filhos das trevas; sendo os descendentes das tribos de Levi, Judá e Benjamim, retratados como os filhos da luz, e os Edomitas, Moabitas, Amonitas, Filisteus e Gregos, representados como os filhos das trevas.
Dois anos após a primeira descoberta, foram encontradas as ruínas do Mosteiro de Khirbet Qumran, uma propriedade dos Essênios. Onde provavelmente teriam sido confeccionadas as cópias das Sagradas Escrituras. Com certeza, pelo mesmo motivo que os monges de Nag Hammadi enterraram os códices dos Evangelhos Apócrifos, os essênios esconderam nas grutas de Qumran, no Mar Morto.
Como vimos, foi através dessas descobertas que atualmente temos acesso a esses livros Apócrifos que deveriam, de acordo com a Igreja Católica, ter sido destruídos há muitos séculos.
Não sabemos exatamente qual o critério usado pela Igreja para designar os livros que eram apócrifos ou canônicos (do grego Kanón - catálogo de Livros Sagrados admitidos pela Igreja Católica). Mas provavelmente, era apenas uma conveniência daquela época. O mais interessante, é que a própria Igreja Católica reconhece que muitos desses textos foram escritos por autores sagrados. E por que então não reconhecê-los como canônicos? E por que tais textos foram perseguidos e condenados durante séculos?
Atualmente, a Igreja Católica reconhece como parte da tradição os Evangelhos Apócrifos de Tiago, Matheus, O Livro sobre a Natividade de Maria, o Evangelho de Pedro e o Armênio e Árabe da Infância de Jesus. Mas a maioria dos livros não é reconhecida. Ao todo são 112 livros, 52 referentes ao Antigo Testamento e 60 em relação ao Novo Testamento. Dentre eles estão Evangelhos (como o de Maria Madalena, Tomé e Filipe), Atos (como o de Pedro e Pilatos), Epístolas (como a de Pedro à Filipe e a Terceira Epístola aos Coríntios) e Apocalipses (como de Tiago, João e Pedro) Testamentos (como de Abraão, Isaac e Jacó). Além de A Filha de Pedro,Descida de Cristo aos Infernos, etc.
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